Aquando da realização do 17º Festival da Juventude e Estudantes, datado de 13 á 23 de Dezembro de 2010, na cidade de Tshwane( Pretoria) África do Sul, estava eu numa loja com um amigo artista e apreciador das artes. Tinha-mo-nos aproveitado de um intervalo entre as actividades para sair, comer algo e fazer umas compras.
Como pai atencioso que é, meu “ kamba” não “mayou” e aproveitou a oportunidade para comprar umas bonecas para as suas filhas, atento que sou reparei que as bonecas que o mesmo escolhia eram “ blacks” (negras), e perguntei-lhe o porquê. Ele replicou que era para que as suas filhas crescessem com orgulho de serem negras, e que um dia quando já crescidas não se sentissem inferiores as raparigas brancas. A princípio não liguei muito a resposta, mas após alguns minutos viajei pelas minhas memórias da infância e lembrei que naquela altura as bonecas ( barbies que eram as que batiam na época ) das minhas irmãs eram todas brancas, e que as poucas bonecas negras que as mesmas tinham eram feitas de panos, ou eram gordas e “malaikes”. Também reparei que os meus heróis dos desenhos animados(super-homem, Homem Pássaro, Batman, Homem-aranha) eram todos brancos.
Outra cena que também me intrigou é o facto de que naquela fase os filmes de acção que eu assistia os “ Artistas” (Personagens Principais) eram sempre brancos, salvo o erro de casos em que eram vários artistas ou um grupo de artistas em que teria um ou outro negro ( que também não era o principal), e que muitas das vezes morria ou fazia algo estúpido que pusesse ele e o resto do grupo em perigo. Então reflecti que foram essas situações que quando criança um dia também despertaram em mim a vontade de ser branco. Vontade essa que me passou rápido. Me passou mesmo rápido graças a intervenção de duas personalidades; O Washinho e a Maricota, e importa aqui explicar como e porquê.
O Washinho na qualidade de irmão mais velho e apercebendo-se da minha preocupação em querer ser branco, abordou-me dizendo que havia se empenhado em pesquisas, e que já tinha uma “solução” para o meu problema, mas que como “bom cientista “ que era, o seu trabalho deveria ser recompensado mediante um prévio pagamento. Afinal de contas o que é bom custa caro. Sem reclamações, corri até ao quarto, vasculhei o meu cofre e tirei todas as poupanças ( trocos que andei a “ aguentar” durante a semana, e uns kwanzitas que um ou outro tio andou a dar), após a recolha das verbas e feito o pagamento foi-me dada a “ fórmula mágica” ; Cobrir-se todo em pasta de dentes e ficar pelo menos duas horas sob o sol ardente.
Sem mais demoras assaltei a despensa e tirei a maior quantidade de pasta de dentes que pude e cobri o corpo todo e me expus ao sol conforme o “ Doutor Washinho” orientará. Afinal de contas ele ESTUDOU. Passado dez minutos, vejo a Maricota a aproximar-se, Hum.... mô azar,quem me mandou? Ágil e rápida como só ela consegue ser, em menos de cinco segundos a Maricota transformou uma distância de aproximadamente 15 metros a uns míseros milímetros. Definitivamente eu estava “ paiado”, começaram a chover “galhetas”,e decorridos 5 minutos de peleja consegui escapar, Uhf... corri o máximo que pude e para o local mais distante possível, só sei que a tontura era tanta que já nem me lembro para aonde fui.
E foi ai que comecei a questionar a minha “necessidade” de ser branco e a considerar que na vida poderia alcançar tudo o que quisesse mesmo sendo negro. Porquê? Porque aguentar cinco minutos de pancada da Maricota e conseguir escapar era coisa que nem os RAMBOs, VANDAMMEs e COMANDOs (brancos, adultos e musculados) conseguiriam fazer. Sério, sobreviver as “bofas” da Maricota era maior proeza do que essas que os artistas faziam nos filmes. A Maricota era o tipo de pessoa que se tivesse que fazer o papel de bandido(a) num filme o artista morreria no fim.
Definitivamente o Washinho e a Maricota (directa ou indirectamente) tiveram a sua influência na minha decisão de deixar de ser “pula” , mas foram o tempo, a vida e as conquistas de pessoas de varias cores( entenda-se raça) que me ajudaram a compreender que são a vontade, a disciplina e determinação que de certa forma ditam o nosso futuro.
A vida me ensinou que não apenas um grupo racial está predestinado ao sucesso.E o tempo também me ensinou que facilidades, dificuldades, alegrias e tristesas encontraremos neste arduo percurso que é a vida independentemente da nossa raça ou cultura
Por isso não importa se és preto, branco, amarelo, vermelho ou castanho, o que importa é que fizemos todos parte deste arco-íris que é a raça humana!!!!
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By Hamilton Weza